Transtornos da personalidade
Cada pessoa tem seus próprios traços de personalidade, que diz respeito aos comportamentos, pensamentos, sentimentos e à capacidade de adaptação de uma pessoa, ou seja, a individualidade pessoal e social de cada individuo. Refere-se, portanto, ao afeto (variação, intensidade, adequação da resposta emocional), à cognição (formas de perceber e interpretar a si mesmo, outras pessoas e eventos) e ao funcionamento interpessoal ou controle de impulsos (a forma como um indivíduo se relaciona com outras pessoas e com seus impulsos). Eventualmente algumas características podem ser observadas já na infância, mas é na adolescência ou no início da fase adulta que costuma estar constituída, se estabilizando ao longo da vida.
Quando os traços de uma personalidade se desviam daquilo que é culturalmente esperado, são mal adaptativos, rígidos, inflexíveis e causam sofrimento ou prejuízo significativo, podemos dizer que estamos diante de um transtorno de personalidade, ou seja, uma doença que precisa ser tratada.
Os transtornos de personalidade são divididos em 3 grupos:
GRUPO A: personalidades excêntricas ou esquisitas (TP paranoide, TP esquizoide e TP esquizotípica)
GRUPO B: personalidades dramáticas, emotivas e erráticas (TP Borderline, TP histriônica, TP narcisista e TP antissocial)
GRUPO C: personalidades medrosas e ansiosas (TP evitativa, TP dependente e TP obsessivo-compulsiva)
As causa dos transtornos de personalidade são diversas e multifatoriais, abrangendo fatores genéticos, biológicos, sociais e psicodinâmicos. Contudo, há alguns tipos de transtornos que são mais estudados do que outros e que possuem uma melhor descrição de possíveis fatores desencadeantes, como por exemplo, o Transtorno de Personalidade Borderline descrito a seguir:
Transtorno da Personalidade Borderline
A característica essencial do transtorno da personalidade borderline é um padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem, de afetos e de impulsividade acentuada que surge na adolescência ou no começo da vida adulta. Esse transtorno é diagnosticado predominantemente (cerca de 75%) em indivíduos do sexo feminino.
Diagnóstico do TP Borderline
O indivíduo vai apresentar instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem, dos afetos e de impulsividade que surgem na adolescência ou no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes:
1. Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado (sente-se abandonado, sozinho).
2. Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizados pela alternância entre extremos - OU TE AMO OU TE ODEIO, ou seja, referem-se a tendência que essas pessoas tem de desenvolver relacionamentos intensos com as outras pessoas, de modo que o outro (seja um amigo, conhecido, parente, namorado, etc) ora é percebido de maneira idealizada ( “ele é tudo pra mim, ele é perfeito, só tem qualidades”), ora é tido como alguém totalmente sem valor (“ele é péssimo, ridículo, não vale nada”).
3. Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si mesmo (sente-se feio, sem graça, um nada).
4. Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas (ex: gastos, sexo, abuso de substância, direção irresponsável, compulsão alimentar).
5. Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante (se cortar).
6. Instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor (ex: mudança repentina no estado de ânimo, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas e apenas raramente de mais de alguns dias).
7. Sentimentos crônicos de vazio.
8. Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la (ex: episódios frequentes de irritação, raiva constante, brigas físicas recorrentes).
9. Ideação paranoide transitória associada a estresse ou sintomas dissociativos intensos – em casos mais graves.
Características comuns em pessoas com TP Borderline
Indivíduos com o transtorno da personalidade borderline tentam de tudo para evitar abandono real ou imaginado. A percepção de uma separação, rejeição ou a perda de estrutura externa podem levar a mudanças profundas na autoimagem, no afeto, na cognição e no comportamento. Esses indivíduos são muito sensíveis às circunstâncias ambientais. Vivenciam medos intensos de abandono e experimentam raiva inadequada mesmo diante de uma separação de curto prazo realística ou quando ocorrem mudanças inevitáveis de planos (ex: pânico ou fúria quando alguém importante para eles se atrasa alguns minutos ou precisa cancelar um compromisso).
Esses indivíduos podem achar que esse “abandono” implica que eles são “maus”. Tais medos de abandono têm relação com intolerância a ficar só e necessidade de ter outras pessoas ao redor. Os esforços desesperados para evitar o abandono podem incluir ações impulsivas como automutilação ou comportamentos suicidas.
Apresentam um padrão de relacionamentos instável e intenso. Podem idealizar cuidadores ou companheiros potenciais em um primeiro ou segundo encontro, exigir ficar muito tempo juntos e partilhar os detalhes pessoais mais íntimos logo no início de um relacionamento. Entretanto, podem mudar rapidamente da idealização à desvalorização, sentindo que a outra pessoa não se importa o suficiente, não dá o suficiente e não está “presente” o suficiente.
Pode ocorrer uma perturbação da identidade, onde há mudanças súbitas e dramáticas na autoimagem. Podem ocorrer mudanças súbitas em opiniões e planos sobre carreira profissional, identidade sexual, valores e tipos de amigos.
Mostram impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas. Podem apostar, gastar dinheiro de forma irresponsável, comer compulsivamente, abusar de substâncias, envolver-se em sexo desprotegido ou dirigir de forma imprudente. Comportamentos de automutilação (ex: cortes ou queimaduras) são muito comuns. Esses atos autodestrutivos são geralmente precipitados por ameaças de separação ou rejeição ou por expectativas de que o indivíduo assuma maiores responsabilidades.
A automutilação (se cortar) com frequência traz alívio por reafirmar a capacidade do indivíduo de sentir sozinho ou a sensação de ser uma má pessoa. Indivíduos com o transtorno podem demonstrar instabilidade afetiva devido a acentuada reatividade do humor (ex: disforia episódica (mudança repentina e transitória do estado de ânimo), irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas e apenas raramente com duração de mais do que alguns dias.
Podem ser perturbados por sentimentos crônicos de vazio, às vezes se isolam e não querem falar com ninguém. Facilmente entediados, podem estar constantemente buscando algo para fazer. Com frequência expressam raiva inadequada e intensa ou têm dificuldades em controlá-la. Podem demonstrar sarcasmo extremo, amargura persistente ou ter explosões verbais. As expressões de raiva costumam ser seguidas de vergonha e culpa, contribuindo para o sentimento de ter sido uma má pessoa.
Fatores de risco para desenvolver o TP Borderline
Genéticos: cerca de cinco vezes mais comum em parentes biológicos de primeiro grau de pessoas com o transtorno do que na população em geral.
Psicológicos: abuso físico e sexual, negligência, conflito hostil e perda parental prematura (morte ou separação dos pais), brigas familiares, e várias outras questões psicológicas que o paciente não consegue resolver sozinho, se beneficiando muito com a Psicoterapia.
Tratamento
O principal tratamento é a Psicoterapia, sendo necessário em alguns casos, medicações para o controle dos sintomas do paciente. Quanto mais cedo iniciar o tratamento, maiores são as chances de o indivíduo melhorar e voltar a sua funcionalidade, diminuindo os prejuízos que esse transtorno pode causar na vida do paciente.